Fundador do Expresso e da SIC, antigo primeiro-ministro e figura central do jornalismo e da política portuguesa, Francisco Pinto Balsemão faleceu esta terça-feira, aos 88 anos. Deixa um legado indelével na defesa da liberdade de informação e na modernização da democracia portuguesa.
Um percurso ímpar entre o jornalismo, a política e a empresa
Francisco Pinto Balsemão, uma das figuras mais marcantes da história recente de Portugal, faleceu esta terça-feira, aos 88 anos. A sua vida pública cruzou três esferas decisivas para o país — o jornalismo, a política e o mundo empresarial — unidas por uma causa que o acompanhou sempre: a liberdade.
Nascido em Lisboa a 1 de setembro de 1937, descendente de uma família com raízes na Guarda e tradição empresarial e jornalística, formou-se em Direito pela Universidade de Lisboa. Desde cedo, a imprensa foi o seu território natural. Iniciou-se na revista Mais Alto e no Diário Popular, antes de fundar, em 1973, o semanário Expresso — que viria a tornar-se um símbolo do jornalismo livre, plural e exigente, em pleno período de transição democrática.
Com o Expresso, Balsemão ajudou a formar gerações de jornalistas e leitores, defendendo que “a liberdade de imprensa é condição essencial para uma sociedade democrática”. Em 1992, lançou um novo marco no panorama mediático português: a criação da SIC – Sociedade Independente de Comunicação, primeira televisão privada em Portugal, através do Grupo Impresa, que fundou e dirigiu durante décadas.
Da Ala Liberal a São Bento
Antes mesmo da Revolução de Abril, Pinto Balsemão integrou a chamada “Ala Liberal” da Assembleia Nacional, um grupo de jovens deputados que, ainda no regime, defendiam a abertura política e as liberdades cívicas.
Em 1974, participou na fundação do Partido Social Democrata (PPD, depois PSD), sendo o militante número 1 da nova força política. Sete anos mais tarde, em 9 de janeiro de 1981, assumiu o cargo de primeiro-ministro, liderando o VII Governo Constitucional até junho de 1983. O seu mandato ficou marcado por dossiês estruturantes, como a revisão constitucional de 1982 — que extinguiu o Conselho da Revolução — e as negociações para a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia.
Um construtor de liberdade e modernidade
Ao longo da sua vida, Balsemão acumulou distinções nacionais e internacionais, entre as quais a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique e da Ordem da Liberdade, esta última atribuída pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, aquando dos 50 anos do Expresso.
Mais do que títulos, deixa um legado de princípios: a defesa da liberdade de expressão, a modernização dos meios de comunicação e a convicção de que o jornalismo deve servir a verdade e a democracia.
Um legado que ultrapassa gerações
Homem de convicções firmes e temperamento dialogante, Francisco Pinto Balsemão foi descrito como um espírito livre e moderado, fiel à ética da responsabilidade e à consciência dos limites do poder — fosse no exercício político ou na direção editorial.
A sua morte encerra um dos capítulos mais longos e consistentes da história contemporânea portuguesa. Mas o seu exemplo — de serviço público, rigor jornalístico e compromisso com a liberdade — continuará a inspirar jornalistas, políticos e cidadãos.
Em Penacova, como em todo o país, recorda-se hoje um dos grandes construtores da democracia portuguesa e um dos últimos fundadores de uma imprensa verdadeiramente independente.
Foto do Ricardo Costa.

