Obra que resgata a memória culinária da Beira Interior vence prémio internacional “Melhor Livro de Gastronomia Portuguesa do Mundo” nos Gourmand Awards 2025, reforçando o papel das Aldeias Históricas como modelo de turismo sustentável e valorização do património imaterial.

A gastronomia das Aldeias Históricas de Portugal acaba de alcançar um marco internacional: a Carta Gastronómica “Receitas que Contam Histórias – Gastronomia e Vinhos das Aldeias Históricas de Portugal” venceu o prémio “Best Portuguese Cuisine Book in The World” nos Gourmand Awards 2025, os chamados “Óscares da Gastronomia”. O anúncio foi feito esta quarta-feira, 18 de junho, no Centro de Congressos do Estoril, perante uma plateia global de autores, editores e especialistas do setor.
A distinção foi entregue por Edouard Cointreau, presidente e fundador do prestigiado galardão, que enalteceu o mérito cultural e antropológico da publicação: “Parabéns por este trabalho extraordinário que preserva tradições culinárias ancestrais, receitas únicas e vinhos locais das 12 aldeias históricas da Beira Interior.” A obra, sublinhou, representa um contributo exemplar para o turismo sustentável e para o fortalecimento das comunidades locais.
Receituário com raízes profundas e olhos no futuro

Editado pela LeYa, o livro é o resultado de uma investigação aprofundada em arqueologia alimentar, conduzida pela investigadora e professora Olga Cavaleiro. Ao longo de vários meses, dezenas de habitantes de Almeida, Belmonte, Castelo Mendo, Castelo Novo, Castelo Rodrigo, Idanha-a-Velha, Linhares da Beira, Marialva, Monsanto, Piódão, Sortelha e Trancoso partilharam práticas, saberes e receitas, revelando uma gastronomia que é simultaneamente quotidiana e festiva, simples e sofisticada, marcada pela ligação à terra e à memória.
Com 420 páginas, a Carta Gastronómica vai além do registo documental: serve como instrumento de capacitação económica, identidade e inovação. Com o apoio da Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra e da Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior, muitas das receitas foram integradas em ementas de 14 restaurantes aderentes, criando pontes entre tradição e contemporaneidade, e tornando acessível ao público a genuinidade culinária do território.
Gastronomia com impacto social, económico e ambiental
O projeto assenta numa lógica de sustentabilidade alinhada com os princípios do Green Deal Europeu, valorizando produtos endógenos, cadeias curtas de produção e consumo e modos de produção amigos do ambiente. Esta abordagem faz parte do compromisso assumido pelas Aldeias Históricas de Portugal em alcançar a neutralidade carbónica, posicionando-se como o primeiro destino turístico em rede, carbono neutro, do país.
A dimensão científica e pedagógica da obra é igualmente notável, cruzando disciplinas como a antropologia, a etnobotânica, a história da alimentação e a economia circular. Ao recuperar técnicas de confeção e conservação como a salga, o fumeiro, ou a utilização de ervas silvestres, a obra contribui para salvaguardar um saber-fazer enraizado, mas ameaçado pela globalização alimentar.
Destino premiado que une história, natureza e sabor
As Aldeias Históricas de Portugal são hoje um caso de sucesso em desenvolvimento turístico sustentável. Com a Grande Rota 22 — a maior rota de Walking & Cycling da Europa, com cerca de 600 km e selo “Leading Quality Trails – Best of Europe” — e com o estatuto de BIOSPHERE DESTINATION, o território alia património, mobilidade suave e turismo de experiência. Desde 2020, é também pioneiro na criação de um Manifesto do Turista Responsável, promovendo o respeito pela natureza e pelas comunidades.
Para Carlos Ascensão, presidente da Associação de Desenvolvimento Turístico Aldeias Históricas de Portugal, esta distinção “confirma a força e o valor de um projeto que nasceu da escuta atenta às nossas comunidades”. Acrescenta: “É um reconhecimento que partilhamos com todos os habitantes, investigadores, parceiros e entidades que ajudaram a preservar um saber-fazer culinário único e profundamente enraizado. As nossas receitas contam, de facto, histórias — e hoje o mundo inteiro ouviu uma delas.”



